Artigos Científicos sobre saúde mental:
Avanços da saúde mental e seus reflexos na enfermagem
Os sistemas de saúde de muitos países, inclusive os do Brasil, têm passado por importantes reformas que buscam melhorar não apenas sua relação custo-benefício, mas, principalmente, a cobertura da atenção básica, a gestão descentralizada, a melhora na qualidade do cuidado e o aumento da participação da comunidade.
Tais mudanças têm atingido todo o sistema de saúde brasileiro, especialmente a saúde mental que, nos últimos cinqüenta anos, tem vivido o movimento mundial de reversão do modelo manicomial cujo impulso político teve como marco a Conferência de Caracas para Reestruturação da Assistência Psiquiátrica na América Latina. Este desencadeou importantes experiências alternativas e iniciativas regionais que estão transformando as organizações, sua operacionalidade, principalmente, a ideologia e os paradigmas conceituais que os sustentam.
No Relatório de Gestão 2003/2006, da Coordenação Geral da Saúde Mental do Ministério da Saúde, aprovado em fevereiro de 2007, encontra-se uma súmula com resultados que retratam as conseqüências da luta antimanicomial dos últimos cinqüenta anos.
Nesse documento, enfatizam-se os avanços na construção da rede de atenção de base comunitária, com expansão e consolidação dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPs) em todo o país, as residências terapêuticas, ambulatórios, centros de convivência, hospitais de semi-internação e demais articulações intersetoriais. A grande vitória destacada desse documento é a diminuição progressiva dos macro-hospitais, fechando aqueles em condições precárias, diminuindo os leitos.
O final do ano de 2006 marcou como dado histórico a efetiva reorientação de financiamento do governo em saúde mental, ou seja, se há dez anos os gastos hospitalares eram de 93,1%, hoje, 51,3% destinam-se aos gastos extra-hospitalares e 48,7%, aos gastos hospitalares.
Os gastos com CAPs que, em 2002, eram por volta de 7 milhões de reais, cresceram visivelmente e hoje estão próximos dos 170 milhões de reais.
Tais dados são a materialização da mudança do modelo assistencial que desloca os recursos financeiros e humanos para a comunidade, com reflexos nos contornos sociais, incluindo novas parcerias e modificação de valores, diminuindo o estigma e incentivando o pacto pela vida, não pela exclusão.
Nas orientações das ações da Enfermagem de Saúde Mental da OPS, consta que o pessoal de enfermagem representa entre 50% e 80% da força de trabalho nos serviços de saúde mental. Seja no papel de gestor, de membro da equipe em contato direto com o portador de saúde mental e seus familiares, seja na supervisão dos auxiliares e técnicos de enfermagem, ou na determinação do projeto terapêutico para cada pessoa sob seus cuidados, o enfermeiro é elemento chave neste processo de mudança de paradigma.
Tudo isso exige continuidade e sustentabilidade que atinge a enfermagem tanto nas questões de tecnologia do cuidado geradas no dia-a-dia da construção de novo modelo de assistência, como nos projetos educacionais e científicos.
Hoje, espera-se que o enfermeiro seja capaz de identificar e manejar, ou encaminhar adequadamente os casos de manifestações mentais em qualquer especialidade e situação de atenção à saúde, e que os enfermeiros psiquiátricos e de saúde mental estejam preparados para cuidar da pessoa afetada em todos os níveis de atenção.
Portanto, é necessário integrar os resultados das novas experiências da prática e as contribuições da Ciência nos programas de educação tanto para a formação básica do enfermeiro, como nos programas de educação continuada para os enfermeiros que atuam na assistência e em programas de pós-graduados.
Ribeirão Preto, 21 de março de 2007.
Prof.ª Dr.ª Antonia Regina Ferreira Furegato Prof.ª Titular do Depto. de Enfermagem Psiquiátrica e Ciências Humanas
Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto
Universidade de São Paulo
Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto
Universidade de São Paulo
Rev. esc. enferm. USP vol.41 no.2 São Paulo June 2007
http://dx.doi.org/10.1590/S0080-62342007000200001
NOTA PRÉVIA
Trata-se de um estudo para elaboração de tese de doutorado que elegeu como tema o ensino de enfermagem em psiquiatria e saúde mental, focalizando a educação para a mudança. A formação de enfermeiro exige do educador, cada vez mais, reflexão crítica sobre sua prática, num movimento dinâmico e dialético entre o fazer e o pensar sobre esse fazer. Acreditando nesta afirmativa, repensamos a epistemologia da enfermagem psiquiátrica e saúde mental sob um novo foco da educação, que está direcionado para a aquisição de habilidades no campo afetivo, cognitivo e psicomotor e para a mobilização do conhecimento diante de situação real. Ambos os focos, ao mesmo tempo, irão constituir a competência do profissional. No estudo que pretendemos desenvolver teremos como recorte a reprodução do conhecimento de enfermagem psiquiátrica/saúde mental, interessando-nos as situações de sua efetiva aplicação. Para tanto buscamos em Perrenoud (1999) a definição de competência como a capacidade de agir eficientemente em uma situação real, apoiada em conhecimentos, mas sem limitar-se a eles. Para enfrentar ou solucionar determinadas situações com pertinência e eficácia mobiliza-se vários recursos cognitivos, como saberes, capacidades, informações e outros. Tal conceito de competência pode indicar um caminho para reverter a atual situação do ensino nesta área, que por várias razões, explicitam uma dicotomia entre o saber reproduzido nas escolas e o praticado na assistência ao doente mental, resultando na formação de profissionais acríticos e pouco atuantes politicamente. Formulamos como objetivos para a pesquisa: identificar a representação sobre competência junto aos sujeitos da pesquisa (docentes e enfermeiros de campo); analisar os conhecimentos necessários e as habilidades que devem ser desenvolvidas pelo enfermeiro para a construção das competências de intervenção no processo saúde-doença, para o ensino da prática de enfermagem psiquiátrica e saúde mental; identificar limites e possibilidades para a construção de competências a partir das representações dos sujeitos trabalhadas nos grupos focais e do referencial teórico "pedagogia das competências". É uma pesquisa de abordagem qualitativa, cujo referencial metodológico seguirá a dialética marxista para a investigação do objeto e, como balizas para o conhecimento do mesmo, utilizaremos as categorias analíticas Práxis e Relações sociais de produção. Serão sujeitos, docentes da EEUSP e enfermeiros dos campos práticos utilizados pela mesma escola.
Rev. esc. enferm. USP vol.38 no.3 São Paulo Sept. 2004
http://dx.doi.org/10.1590/S0080-62342004000300014
Roselma LuccheseI; Sônia BarrosIIIEnfermeira, professor M III, do curso de Enfermagem da Fundação Educacional de Fernandópolis. Mestre em Enfermagem Psiquiátrica pela Escola de Enfermagem da USP (EEUSP). Doutoranda do Programa Interunidades da EEUSP roselma@acif.com.br
IIEnfermeira.Professor Doutor do Departamento de Enfermagem Psiquiátrica da EEUSP. sobarros@usp.br
Processo ensino aprendizagem em saúde mental: o olhar do aluno sobre reabilitação psicossocial e cidadania
Sônia BarrosI; Heloísa Garcia ClaroIIIProfessor Associado do Departamento de Enfermagem Psiquiátrica e Materno Infantil da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. São Paulo, SP, Brasil. sobarros@usp.br
IIEnfermeira. Mestranda do Programa de Pós Graduação em Enfermagem da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. heloisa.claro@usp.br
As políticas de Saúde Mental vigentes no país confirmam necessidade de estimular práticas de ensino, pesquisa e extensão que favoreçam novas atitudes profissionais. Estudo anterior revelou que a representação de alunos sobre competências necessárias na saúde mental, conforma categorias sobre conceitos de competência, recursos cognitivos, sentimentos expressos e conceito de saúde e doença, não se depreendendo temas relacionados à Cidadania ou à Reabilitação Psicossocial dos usuários, conceitos centrais no ensino da disciplina. Neste estudo, analisou-se a representação sobre estes conceitos, sobre os saberes e habilidades identificados como necessários para a prática da Reabilitação. Os entrevistados cursaram a disciplina de Enfermagem em Saúde Mental de uma universidade pública e os resultados mostram valorização das demandas dos usuários, no entanto, as representações sobre cidadania e reabilitação psicossocial sustentam-se no senso comum relacionado à periculosidade e à direitos básicos como à saúde e lazer.
Rev. esc. enferm. USP vol.45 no.3 São Paulo June 2011
http://dx.doi.org/10.1590/S0080-62342011000300022
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